lunes, 30 de enero de 2012

Onde estaria Gramsci na decadente Europa atual?


(Comemorando o 121º aniversario de su nacimiento)


Autor: Jon Juanma
Tradução: Fernanda Dewes

Antonio Gramsci foi um revolucionário, teórico marxista, jornalista e filósofo; que chegou a ser um dos principais dirigentes do Partido Comunista italiano nos vinte anos do século passado (atingindo o cargo de Secretário Geral). Morreu em um 27 de abril, o do ano de 1937. Nesse momento, com 46 anos de idade, extremamente doente, Gramsci estava a ponto de sair da prisão. Lúgubre morada na qual o regime de Mussolini o havia confinado, arrancando-lhe dos braços da humanidade por ser, precisamente um de seus grandes homens: sensível, comprometido com os de sua espécie e brilhantemente inteligente. Inevitavelmente todas essas qualidades o fizeram um destacado e honesto dirigente dos explorados: a classe obreira italiana. Primeiro, como membro do partido socialista, depois, liderando o partido comunista de seu tempo. No entanto, a mesma razão o colocou na mira dos exploradores.

Hoje em dia, quando se cumpre o 121 aniversário de seu nascimento, diante dos acontecimentos que se precipitam como uma cascata sobre o pescoço das classes populares europeias, entre recortes sociais, mercados insaciáveis e agências de rating, cabe perguntar-nos: Onde poderíamos encontrar, em nossa atualidade, um pequeno homem como Antonio, com sua imensa estatura moral? Aqui me ocorrem ao menos três respostas. Depende se contestarmos atendendo a sua dimensão política, a intelectual ou a humana.

Como o político que era, não seria difícil imaginá-lo em algum dos maiores partidos comunistas ou de esquerda de qualquer um dos países europeus atuais. O comunismo está quase tão mal visto hoje como estava ontem e pior estará, portanto, a analogia parece-nos plausível. Lamentavelmente, por hora, as ideias marxistas não gozam da mesma popularidade entre a classe trabalhadora de nossos dias, que na italiana do século passado, quando uma parte importante dela ainda tinha como referencial a recém nascida União Soviética e lutava-se por um horizonte pós-capitalista. Essa é uma disciplina pendente para os marxistas de hoje: chega (outra vez) a hora da revolução e nos pega com os pés trocados e os deveres por fazer...Desde logo está claro que Gramsci seria o contrario a um apolitico. Ele odiava a indiferença como uma força que afoga qualquer progresso histórico. Sem dúvida, nesses momentos, Gramsci estaria arriscando sua pele brandindo razões e lutando por uma humanidade que merecese tal nome. 

Em contrapartida, como intelectual (orgânico) que era, poderiamos imaginar-lo nos centros de trabalho, de estudos e nas ruas agitando aos melhores filhos do povo. Nestes dias de janeiro, o veriamos lutando contrahegemonicamente às tentativas do bloco dominante atual, que busca suprimir espaços de liberdade na rede, batalhando contra SOPA, a Lei Sinde e todas as leies semelhantes. Além disso, seguindo sua proposta de intelectual orgânico da classe obreira, temos a certeza de que não seria o assalariado de nenhum jornal burguês, mesmo que esse se proclamasse progressista ou de esquerdas, porque devido ao seu inevitável compromisso obrero, frente ao patrões e aos politiqueiros de esquerdas, ja faria um tempo, o teraim proibido de escrever em qualquer uma de suas páginas. Tampouco estaria em nenhum partido membro da Internacional Socialista, que deixou enterradas ao largo do século XX, as ideias de Karl Marx e dos socialistas da Comuna de Paris, para acabar abraçando a impossível mão invisivel de Adam Smith, balaçando o berço, quer dizer, os mercados.

Para finalizar nossa fantasia revolucionária, poderiamos perguntarnos: onde estaria Gramsci como ser humano? A resposta é simples: na prisão. Ou, a ponto de entrar. Porque quanto se trata de Gramsci não podemos separar seu compromisso político, intelectual ou ético de seu compromisso humano, porque para ele todas essas dimensões convergiam até a liberação dos seus semelhantes, todas elas esculpiam harmonicamente a essência de sua pessoa, muitas vezes, postas em tensão pelos sofrimentos de sua presença, sua matéria, que nunca foram suficientemente doloridos para extinguir suas ansias revolucionárias de amor infinito ao genero humano.

Hoje, igual a ontem, só que muito pior, o capital financeiro junto aos “governos fantoches” e o grande capital industrial, formam a força macabra e demolidora de um imperialismo (Lenin) de carácter pornográfico (Fontes) e “protonecrófilo” (Fromm) que tenta levar a maioria directamente a tumba. Tudo isso com o único fim de poder garantir novas expropiações que assegurem a reprodução e acumulação constante de plusvalia, cada vez mais concentrada em mãos de uns poucos sádicos magnatas capitalistas. Hoje, como nos tempos de Gramsci, os espaços de democracia (mesmo os burguêses) tendem a desaparecer, enquanto que a ditadura do capital avança com passos firmes; primeiro mostrando uma pata, depois, seus afiados caninos e cada vez mais, seu demoniaco corpo de mil tentáculos, todos sedentos de corpos esquartejados para oferecer nas piras dos mercados internacionais, em que, impunemente, se trafica todos os dias com a vida e a morte de milhares de nossos irmãos.

Se nao fizermos algo grande em breve, logo vamos ter vários intelectuais orgânicos nas prisões europeias, a numerosos familiares que visitar atrás das grades, a vários Gramsci entre quatro paredes, encarcerados como se fossem criminosos da pior espécie, como se fossem grandes banqueiros ou especuladores (desculpem a redundância). Seguramente, não foi para isso que Gramsci passou vinte anos da plenitude de sua vida na prisão, enquanto seus filhos cresciam sem o olhar cúmplice de seu pai e enquanto sua mulher sucumbia frente a insuportável ausência de seu amado. Não foi para isso que Gramsci esteve escrevendo em pequenos cadernos, as escondidas, para que depois de tudo não tenhamos aprendido nada e, por nossa inatividade, voltemos, sem a ajuda de uma máquina do tempo, ao principio do século, em que viveu o revolucionario italiano e, talvez, mais atráz: talvez aos anos de marx e Engels, a brutal exploração do século XIX. Mas desta vez, como sabemos que a história não se repete do mesmo modo, estaremos rodeados por uma paisagem repleta de nanotecnología, internet móvel, e câmaras de videovigilância controladas desde um não tão distante espaço “exterior”.

Partindo dessa afirmação, Antonio merece que lhe brindemos uma boa homenagem. Merece, como minimo, uma revolução. Sabemos que temos motivos de sobra para rebelar-nos e temos também que estudar, trabalhar, lutar e organizar-nos para construir uma revolução que mereça tal nome. Para isso temos que aprender com os erros passados, enquanto nos armamos de solidariedade e fraternidade internacionalista, únicas armas que nos guiaram ao princípio da vitória: o amanhecer do mundo socialista e de uma terra onde a paz e a liberdade possam por fim começar a florecer. Será nada mais e nada menos que o princípio da verdadeira democracia pela qual Antonio Gramsci entregou sua vida. Definitivamente foi um revolucionário a quem faltou uma revolução.

Nós a faremos em seu nome.

Jon Juanma é o pseudónimo artístico/revolucionario de Jon E. Illescas Martínez, investigador da FCM na Universidad de Alicante e na Universidade Complutense de Madri.

Seu e-mail: jonjuanma@gmail.com

Notas:

  1. Gramsci chegou ao mundo em 22 de janeiro de 1891.
  2. Entre outras classes populares, como diz Rafael Diaz-Salazar, não podemos esquecer que não são nem os europeus, nem estadosunidenses os que mais sofrem com a esta crise do capitalismo, e sim, as classes exploradas dos países empobrecidos.
  3. Gramsci, devido a uma doença que sofreu na infancia, não cresceu mais que um metro e meio.
  4. Foi eleito deputado da assembleia italiana em Roma.
  5. A indiferença é o peso morto da história. É a bola de chumbo para o inovador, é a materia inerte na qual aos poucos se afogam os entusiasmos mais brilhantes, é o pántano que rodeia a velha cidade e a que defende melhor com a muralha mais sólida, melhor que as couraças de seus guerreiros, que traga aos assaltantes em seus redemoinhos de lodo, os dizima e os intimida, e em ocasiões os faz desistir de qualquer empreendimento heróico”. GRAMSCI, Antonio (2011) Odio a los indiferentes. Madrid: Ariel [1917].
  6. Para comprovar isso somente é necessária a leitura das belíssimas cartas que desde a prisão Gramsci enviava a seus seres queridos e como conscientemente, seu compromisso historico o levava a aceitar seu encarcelamento sob a tranquilidade de uma ética indestrutível e o convencimento de oferecer sua vida por seus ideais (carta de 10 de maio de 1928, dirigida a sua mae). Quanto ao sofrimento material, me refiro ao problema que teve desde pequeno que lhe impediu de seguir crescendo e lhe produziu uma crescente corcunda, ou as numerosas doenças as quais foi exposto na prisão.
  7. Não digo que sejam todos, mas me parece que dos 1.210 multimilhonários (com mais de um bilhao de dolares) que existem no mundo, muito poucos se salvam do epiteto que lhes dediquei, já que duvido muito que na sua maioria, estes indivíduos dediquem seus ativos para subvertir a ordem que os ampara e acabar com a pobreza no mundo, pois a pobreza mundial origina-se de sua riqueza expropriada e privatizada.
  8. A filosofia de praxis, seria para Gramsci, a aplicação vital dos ensinamentos de um marxisismo democrático entre as maiorias, como produto lógico de um novo estágio de humanismo.
  9. GRAMSCI, Antonio (1974) La formacion de los intelectuales. Barcelona: Grijalbo (1963).

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